Conservando a Sã Doutrina: liberdade que escolhe coerência

Conservando a Sã Doutrina: liberdade que escolhe coerência

A inscrição “Sã Doutrina” provoca resistência; à luz das Escrituras, seguir normas é escolha livre, não ditadura, e deve ser comunicado com clareza e coerência.

Na fachada do nosso templo lê-se: Conservando a Sã Doutrina. Às vezes, essa frase é percebida como “rigidez”. Esclareço a partir do Evangelho: seguir princípios bíblicos, como os interpretamos e ensinamos, é um ato livre, não uma imposição. Em nosso meio, ninguém é coagido a crer ou permanecer; quem adere, escolhe viver coerentemente o que crê e professa.

A suspeita de “autoritarismo” costuma nascer do fato de que levamos a sério normas espirituais. Isso confere seriedade ao testemunho, mas pode intimidar quem supõe não conseguir (ou não desejar) segui-las. A Escritura mostra que o encontro com o santo não escraviza: ele desvela e convoca. Pedro, diante de Cristo, reconhece a própria condição e diz: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou pecador” (Lc 5:8); no Éden, ao som da presença de Deus que “passeava” no jardim, o casal se esconde (Gn 3:8–10). Consciência e recuo não são produtos de coerção, mas efeitos da verdade que ilumina. Aqui mesmo, em Nova Esperança, queremos que a voz de Deus cruze as ruas; se alguns se retraem, não é porque lhes retiremos a liberdade, mas porque a luz interpela.

O jovem rico encarna a tensão entre cumprir preceitos e entregar o coração. A Jesus, ele ouve: “Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres; depois, vem e segue-me” (Mt 19:21–22). Ele parte triste. Não houve força bruta, nem constrangimento: houve exigência evangélica que revelou prioridades. A sã doutrina não é um catálogo de proibições; é caminho de inteireza que, às vezes, pede renúncia para abrir espaço ao amor.

Por isso o convite de Jesus permanece condicional: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8:34). O “se alguém quiser” preserva a liberdade do discípulo: há chamado e há escolha. Falar em “ditadura” seria, na verdade, negar o núcleo do discipulado. Aderir aos princípios e normas bíblicas, segundo a interpretação que a igreja oferece, é um ato volitivo. Ditadura seria impedir a saída; aqui, a porta de entrada é livre, e a de saída também.

Vivemos em democracia, e toda instituição responsável possui normas. Na igreja, isso significa coerência entre o que cremos, ensinamos e vivemos. Crer e pregar de um modo, viver de outro, isso, sim, roça a hipocrisia. Ao contrário, quando uma comunidade torna visível sua regra de fé e vida, ela oferece previsibilidade, honestidade e cuidado pastoral.

Por integridade, nossas regras e normas locais estão (e devem estar) explícitas em documentos internos, com linguagem clara e acessível, “prontos para responder a todo o que vos pedir razão da esperança” (1Pe 3:15) e da nossa existência comunitária. Quem desejar conhecer, pode solicitar: apresentaremos com alegria, acompanharemos com paciência, caminharemos com quem quiser caminhar.

Conservando a Sã Doutrina não é erguer uma muralha; é erguer uma lâmpada. Ela não arrasta pela força: indica o caminho. Se alguém quiser, venha. As portas estão abertas, a consciência é respeitada e a coerência é o nosso voto diário diante de Deus e diante do bairro que amamos.

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