Quem viveu a igreja evangélica brasileira, especialmente a Assembleia de Deus, na década de 1990, lembra-se de um ambiente onde a definição litúrgica, ética e moral era nítida. Havia uma identidade. No entanto, ao olharmos para o cenário de 2025, é impossível ignorar que estamos diante de uma metamorfose profunda.
No vídeo que compartilho hoje, trago uma análise franca sobre essa transição que ocorreu entre o final dos anos 90 e os anos 2000. Não se trata apenas de saudosismo, mas de observar como a sacralidade cedeu lugar ao entretenimento e como a identidade histórica de denominações centenárias foi diluída numa padronização importada.
A Arquitetura do Esquecimento
A mudança começa pelo visual. Antigamente, a estrutura da Assembleia de Deus era inconfundível. Tínhamos o púlpito de madeira, muitas vezes com aquele parapeito solene que separava o altar, um espaço reservado aos ministros do Evangelho. Ali, sentavam-se os presbíteros, evangelistas e pastores.
Hoje, essa estética foi substituída pelo conceito “slim”. Influenciados por um modelo importado da Austrália (o modelo Hillsong), trocamos a madeira nobre pelo acrílico e pelo inox minimalista. O púlpito virou apenas um porta-bíblias.
Mas a mudança não é apenas de móveis; é de protagonismo. O espaço físico dos ministros diminuiu e eles “desceram”. Quem “subiu” para o lugar de destaque foram os músicos e as bandas. O altar, que antes exibia frases como “Jesus Breve Voltará”, agora é dominado por painéis de LED, paredes pretas e jogos de luzes. Visualmente, tornou-se difícil diferenciar o altar de uma igreja do palco de um show secular.
Do Canto Congregacional ao “Top 10”
Essa transformação estética reflete-se diretamente na liturgia. O canto congregacional, aquela voz uníssona entoando os hinos da Harpa Cristã, foi gradativamente silenciado. No seu lugar, entrou a “música contemporânea”: os singles do Spotify e os sucessos das rádios.
A música tornou-se performática. O culto, que antes tinha espaço para a espontaneidade, a famosa “oportunidade” onde um membro podia testificar ou cantar conforme a direção do Espírito, agora segue um script rígido. Tudo é planejado como um espetáculo. O membro tornou-se plateia; o culto, um show.
A Padronização e a Perda da Identidade
Talvez o ponto mais crítico que abordo no vídeo seja a homogeneização das igrejas.
Houve um tempo em que a CPAD, através de grandes mestres como pastor Antonio Gilberto e Claudionor de Andrade, lutava para reafirmar a identidade assembleiana. Hoje, porém, se você entrar numa Assembleia de Deus, numa Batista ou numa Presbiteriana renovada, terá dificuldade em saber onde está. A estética de “boate”, a roupa casual (onde o terno passou a ser criticado como “coisa de fariseu”) e a liturgia de palco tornaram tudo igual.
Estamos a viver uma crise de identidade, onde abrimos mão da nossa herança e da nossa cultura de solenidade para copiar um modelo estrangeiro de entretenimento.
Convido você a assistir ao vídeo completo acima, onde detalho cada um desses pontos. É hora de refletirmos: para onde a Igreja Brasileira está caminhando?
0 Comments